domingo, 25 de setembro de 2011

A estupidez da sabedoria

Este aparente "livrinho" do escritor francês Martin Page, "Como Me Tornei Estúpido", editora Rocco, que li há algum tempo, não tem nada de diminutivo ou, muito menos, de estúpido. Page nos apresenta um protagonista inteligente, com qualificações culturais específicas e simpático. Porém, seus conhecimentos e capacidade intelectual nunca o levaram a ter sucesso reconhecido, e aí está a base de um romance curto e deliciosamente atraente. O herói de nosso romance resolve, então, tornar-se estúpido e investir na idiotice para ser aceito pela sociedade e sobreviver. Nada mais antigo e atual do que se discutir o valor do conhecimento e sua definição, bem como sua utilidade. Ter conhecimento pode nos leva a um certo sofrer, pois cultura nos dá raciocínio, dissertação e opinião. Segundo o romance, a questão maior não é você apontar as idiotices do mundo e de uma sociedade imbecil, mas sim a resposta que você dá a elas. Ele sugere um caminho que segue na contramão de tudo o que possuímos enquanto conhecimento para que, como idiotas, consigamos sobreviver em uma sociedade capitalista e com valores fúteis de consumo e de aparências. Mas, afinal, ser inteligente é ser excluído e sofrer? Como lidamos com nosso conhecimento numa época em que todos os dias surgem matérias que exigem especialização própria? Se, por acaso, sabemos demais, isto nos diferencia das pessoas de nosso convívio? Na verdade, não sabemos nada. Somos, sim, seres dotados de inteligência que deve ser usada para convivermos com mais harmonia e que não deve ser um instrumento separatista ou de exclusão. Acredito na diferença entre as pessoas de um grupo ou de uma sociedade enquanto interesses e estilos de vidas próprios, mas não acredito na superioridade de alguém sobre o seu semelhante. Quanto mais sabemos, maior a dúvida. Um aprendizado leva a outras perguntas. Quando você obtém uma resposta, ela já não possui valor algum. Conhecimento é reconhecer que você não sabe algo. O livro de Page parece nos dizer que devemos ser imbecis para vivermos melhor. Na verdade, seu conselho é o oposto disto: não conseguimos ser estúpidos, pois não nascemos para tal. A sabedoria nos traz convivência pacífica e progresso saudável. Divirta-se!

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