sexta-feira, 22 de junho de 2012

Mudar para não congelar

Na lista das coisas de que eu não gosto está o inverno. Ou estava. Para mim, o inverno sempre teve cara feia, cinza, mofada, vontade de fazer nada, só de ficar em casa me cutucando. Hoje pela manhã, em minha caminhada na rua pós-treino (sai, banha invernal!), eu pude perceber, pela primeira vez, a estação do ano que, ate então, fazia-me rezar para o Santo Aquecimento Global, rogando-lhe para que a excluísse de meu calendário. Mudei de opinião. Andando sob a garoa cintilante de um céu cinza brilhante, o frio que respirei limpou-me por dentro. O movimento imperceptível das árvores parecia me dizer "olhe, o frio também é bom, pois, sem ele, não haveria a possibilidade de, daqui a algum tempo, por exemplo. as flores servirem-lhe de companhia". Daí, comecei a enxergar o inverno de outra forma. E fiquei orgulhoso de mim conseguir mudar de opinião. O que congela não é o inverno. O que congela é acreditar, sempre, nas mesmas coisas. É não se permitir enxergar as mudanças e mudar junto com elas. Renovar-se é necessário. Não deixe que os seus conceitos o envelheçam, para isso já basta o passar dos anos. Use um bom creme para as rugas e esteja sempre de braços abertos para receber o novo, evitando se congelar. Quem está calcificado em pedra dura é fóssil. Experimente a comida que você acha de que não gosta e o lado da calçada que você tem medo de andar. Ouse ler poesia, mesmo não entendendo nada (poesia que se entende não presta). Dance no ritmo da música que você julga vulgar, seja mundano. Seja mutável. Ame de maneira nova, renove sua ideia sobre o amor, para ter mais possibilidades de amar e de ser amado. Gostei do que percebi hoje. Não é o inverno que tem de me perceber, cabe a mim percebê-lo. Faça como eu: relacione, em uma lista, as coisas de que você não gosta e experimente-as de uma maneira nova. É ótimo ver a lista diminuindo de tamanho. Vale ligar para o vizinho chato e convidá-lo para uma cerveja. Quem sabe ele não aparece com um bom papo para espantar o inverno.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Adivinhe quem vem para jantar?

Seguem algumas dicas: ele visita todos os brasileiros no meio do ano. Gosta de roupas pesadas e de chocolate quente. Dá tregua para os ventiladores e adora um cobertor de orelhas. É o inverno. Chega hoje, dia 20/06, às 20h09, na hora da janta. E nem tente querer postergar a visita. Não vai ter jeito. Melhor se preparar para recebê-lo com um delicioso brodo com capeletti (ponha pitadas de tomilho e pimenta-do-reino para deixá-lo mais quente ainda), umas boas meias de lã e um cobertor (aquele mesmo, guardado desde a última visita de nosso amigo friolento). Uma companhia para um vinho tinto também é uma boa ideia. Se acompanhado de queijos e de um blues então, o negócio pode pegar fogo! Poderá fazer com que a visita inevitável fique quietinha e nem atrapalhe muito. Mas, caso o inverno seja a sua única companhia para jantar, não se preocupe. O poeta chileno Pablo Neruda pode ajudá-lo. Seu livro "Jardim de Inverno", editora L&PM (a edição tem um preço bem justo) publicado postumamente como uma despedida, inclusive com trechos que deixam claro o seu adeus, aquece a alma e o coração. Tenho certeza de que o "calor" provocado pelos poemas de Neruda irá deixá-lo bem quentinho.Daí você poderá abrir a porta para o colega invernal sem receio de passar frio. Só para você ficar com vontade de ter o Neruda hoje à noite junto com uma bebida quente, vai um excerto, um poema, do livro. "Que tenhamos tempo e tinta para todos que gostamos, com os quais compartilhamos os pedaços felizes e substanciais da existência". Divirta-se e bom inverno.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O amor mata

Ah!, O amor! Dizem que pode matar. Sim, matar! E não estou me referindo aquela coisa de "morreu de amor", como a Dama das Camélias, de Dumas Filho, que, na verdade, morreu de tuberculose. Estou falando de morrer amando. Veja a situação de alguns insetos. Os machos morrem quando fecundam as fêmeas, outros morrem nas "mãos" da própria fêmea após o ato "amoroso". A falta do "amor" para os insetos, faz com que suas vidas durem até a próxima primavera (reflitam sobre isso, aranhas!). Há quem acredite que amar é perder uma parte da alma para o objeto amado. E se há ejaculação, então, nossa! Junto com a porra toda, vão-se alguns anos de vida. Na Grécia antiga, os atletas não faziam amor. Poupavam-se do gozo e essa moderação fazia parte do treinamento, poupando-lhes energia e força. E se houver trepadinhas constantes, danou-se. Dizem que o excesso de cama (obviamente não para tirar uma sonequinha) encurta a vida. E mais: quando o indivíduo apaixonado perde sua capacidade de procriar, é porque a morte está próxima. Pois é, é o amor. Mas, apesar disso tudo, amamos. E ainda bem que amamos e que morremos de amor. Coisa chata seria não amarmos. Isso sim seria morrer. Seria como jogar a vida na descarga ou incinerá-la. Melhor ser incinerado pelo amor e morrer com cara de gozo, uma vez que a morte virá de qualquer jeito. Tá bom, eu sei que, às vezes, não é sereno amar, mas mesmo assim, vale a pena. É como a ressaca, o dia seguinte da bebedeira. Vale a pena. Eu quero que todo dia seja dia dos namorados. Quero que o veneno dos amantes seja expelido a todo instante. Quero que o amor assassino faça parte da vida de todos os malucos suicidas que não aceitam viver sem amar. E sem trepar. E sem morrer.