quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A leitura e o leitor

Há tempos o homem convive com a leitura. Os egípcios, na figura dos escribas, já "liam" sinais e os declamavam para a sociedade que não os sabia "ler". Era a época da leitura verbal, e o escriba era o soberano da informação, pois só ele entendia os tais sinais e as elaboradas marcações existentes. Hoje, a leitura é silenciosa, individual e privada. Ela cria no leitor um sexto sentido que, unido à sua inteligência, transforma-o em um ser com capacidades "sobre-humanas", como recordar algo importante ou ter bibliotecas inteiras memorizadas. Por isso, o ato de ler deve ser ensinado às crianças, para que elas, no futuro, sejam os cidadãos super-homens, com seis, nove, vários sentidos. Ensinar a ler não é forçar a criança a escrever a mesma frase várias vezes, ou pedir a que ela "cace" palavras com o mesmo número de sílabas em um texto, ou, ainda, mandá-la grifar os sujeitos de orações que estão soltas, sem nenhuma conexão entre elas. Isso afasta as crianças da leitura, pois são tarefas parecidas com castigos. Ensinar a ler é fazer com que o pimpolho sinta o aconchego do texto e o calor das histórias. Que ele seja atraído pela leitura e que a deseje. Desejando-a, sentirá prazer em ler. E não estou falando da leitura de textos na internet (rápidos e, muitas vezes, vazios) ou da leitura de documentos burocráticos. Essa leitura já ocupa 70% de nosso dia. Refiro-me à leitura cultural, aquela que serve para a mente e para o espírito, aquela que nos enriquece. Uma leitura que é infinita em seus significados e que é para sempre. Não deixemos que a época em que poucos liam volte. Lutemos para que a leitura continue sendo silenciosa e sagrada. Do contrário, viveremos em uma sociedade onde a figura do escriba egípcio voltará em forma de "chat", ditando-nos seus textos e deixando-nos sem opções de referências literárias.
Referências de leitura (valem MUITO a pena): "História da Leitura", de Steven Roger Fischer; "Do Mundo da Leitura para a Leitura do Mundo", de Marisa Lajolo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A extinção de uma cultura

Esta é a aldeã Gyani Maiya Sen. Ela nasceu no Nepal, tem 75 anos e é a última falante da língua kusunda. O povo da tribo kusunda, por sofrer preconceito de outros povos do Nepal que o consideram inferior, abdicou de sua língua. Poucas pessoas da etnia kusunda ainda existem (não chegam a 100, segundo o último censo nepalês, realizado em 2001), pois elas escondem a própria origem a fim de conseguirem melhor aceitação na sociedade. A última pessoa com quem Gyani usou a língua foi sua mãe, morta há 25 anos. Apesar de ter filhos, Gyani, pelo motivo acima, deixou de usar a língua kusunda. Agarrado há um tipo de esperança que só um linguista pode ter, o estudioso nepalês, Gautam Bhojraj, aprendeu o idioma kusunda e usa-o com Gyani para que a língua não desapareça. Um lindo trabalho para preservar toda a cultura de um povo. Se, por acaso, a língua kusunda desaparecer, a história, os costumes, a inteligência e a organização de uma sociedade sumirão com ela. Gyani está animada. Ela afirma que, se continuar falando em sua língua materna, ela não desaparecerá. Uma parte da história da humanidade está nas mãos, ou melhor, na boca de duas pessoas: da simpática Gyani e do destemido Gautam. Tomara que eles tenham sucesso, pois, do contrário, uma sociedade, hoje praticamente representada por uma senhora de boa vontade, será extinta. E com ela, um pedaço da memória dos homens. Fiquei comovido  com esta história lendo-a na revista "Língua Portuguesa" nr. 82, edição de agosto deste ano, da editora Segmento. Quiz dividi-la com você.