segunda-feira, 23 de abril de 2012

O hífen nosso de cada dia PARTE II

Conforme prometido, seguem mais algumas regras simplificadas com intuito de nos ajudar a conviver com o nosso amigo hífen sem ter vontade de matá-lo de vez como fizeram com a trema (afinal, para que serve o hífen?). Lembrando que as regras aqui dispostas são consequência do novo acordo ortográfico da língua portuguesa.
USA-SE HÍFEN:
- Com os prefixos EX, VICE, PRÉ, PRÓ E PÓS (ex: vice-presidente, pré-história, ex-esposa, etc);
- Quando a consoante do final do prefixo for igual a do segundo elemento (ex: inter-racial, super-revista, hiper-raquítico, etc) note que, se não houvesse hífen, a fonética da palavra mudaria;
- Quando o prefixo terminar em R, B ou VOGAL e o segundo elemento começar com H (ex: super-homem, sub-humano, anti-herói). Aqui, como na regra anterior, se não fosse pelo hífen, a fonética da palavra mudaria;
- Em palavras compostas, sem preposições que as ligue, quando o primeiro elemento for substantivo, adjetivo, verbo ou numeral  (ex: amor-perfeito, boa-fé, guarda-noturno, criado-mudo, decreto-lei), MAS não se esqueça do que vimos anteriormente. SE a noção de composição desapareceu com o tempo, o hífen está fora, como em pontapé, paraquedas, paraquedismo, mandachuva, girassol (para saber se a noção de composição de uma palavra formada por dois elementos desapareceu, reze!).
- E veja só: para os demais casos com os verbos PARAR e MANDAR, bote o hífen! (ex: para-brisa, para-choque, manda-tudo, etc). Viu como a reza é necessária? Por que não parabrisa e parachoque?
- Quando os elementos forem repetidos (ex: tico-tico, tique-taque, pingue-pongue, etc);
- Quando o composto tiver apóstrofo (ex: cobra-d'água, mãe-d'água, etc);
- Em nomes geográficos compostos com GRÃ, GRÃO ou VERBOS (ex: Grã-Bretanha, Grão-Pará, Passa-Quatro), MAS (já vimos isto), para os demais nomes geográficos, o hífen está liberado (ex: América do Sul, Cabo Verde, etc) Gosta de exceção? Lá vai: Guiné-Bissau continua com hífen;
- Nos compostos que designam espécies animais e vegetais (ex: bem-te-vi, couve-flor, joão-de-barro, não-me-toques, coco-da-bahia, etc), MAS (ai, ai) se a palavra for usada em sentido figurado, nada de hífen (ex: ele tem cara de feijão verde);
- Com o prefixo MAL antes de VOGAIS, H ou L (ex: mal-estar, mal-acabado, mal-humorado, etc). Vale dizer que, MAL no feminino, leva hífen (ex: má-lingua);
- Com os prefixos ALÉM, RECÉM, AQUÉM, BEM e SEM (ex: além-mar, aquém-oceano, recém-casado, bem-estar, bem-vindo, sem-vergonha);
- Em palavras consagradas (essa é para chorar!), excepcionalmente, como água-de-colônia, pé-de-meia, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, à queima-roupa, ao deus-dará, arco-da-velha). Agora, para saber quais palavras não sao consagradas e não precisam de hífen, continue rezando. Mas reze muito! Por que pé-de-meia continua com hífen e pé de pato, não? E cor-de-rosa, sim e cor de vinho, não? Eu disse no post anterior que havia pontos obscuros em algumas regras sobre o hífen. Como não somos chatos, vamos em frente;
- Em encadeamentos vocabulares (ex: a relação professor-aluno, o trajeto Tóqio-São Paulo, a ponte Rio-Niterói, o acordo Angola-Brasil).
Ufa! Espero ter contribuído em algo resumindo, nos dois posts, as regras sobre o nosso "tracinho" amigo que, como declarei, já deveria ter sido sacrificado junto com sua irmã inútil, a trema.
Qualquer coisa, estou por aqui. Até-a-próxima!

Fonte
http://educacao.uol.com.br/portugues/hifen-palavras-compostas.jhtm

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O hífen nosso de cada dia PARTE 1

As mudanças impostas pelas regras do novo acordo ortográfico da lingua portuguesa é obrigatória a todos os países que escrevem (e falam) em português. Resolvi abordar uma das alterações, a do nosso "amigo" hífen, e utilizar o Vide Letra para aprendermos, juntos, como esse "tracinho" deve ser utilizado no dia a dia (dia a dia, neste caso, sem hífen, pois ele não está substantivado). Vamos a um resumo basicão que pode nos ajudar em alguns casos, pois a regra após o acordo é extensa e, para falar a verdade, obscura sob alguns aspectos.
NÃO SE USA HÍFEN
- Prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente (ex: autoescola, aeroespacial, extraescolar). Já em auto-observação e micro-ondas usa-se, pois as vogais do primeiro e do segundo elementos são iguais.
- Os prefixos CO, PRE e RE juntam-se ao segundo elemento. (ex: cooperação, preestabelecer, reescrita).
- Quando o segundo elemento começar com as letras S ou R, elas devem ser duplicadas (ex: ultrassecreto, contrarregra, antirreligioso). Note que a duplicação dessas consoantes não altera a fonética da palavra.
- Se a noção de composição das palavras desapareceu com o tempo (ex: pontapé, mandachuva, paraquedas, girassol, paraquedismo, madressilva). Segundo o acordo, os verbos parar e mandar perderam a noção nesses vocábulos. Agora, para-brisa e para-choque continuam com hifen, pois, aqui, o verbo parar continua com o sentido "parar" (para tudo que eu quero descer!)
- Formas adjetvas, como LUSO, AFRO, ANGLO e LATINO (ex: afrodescendente, eurocomunista). Porém, usados como adjetivos pátrios, usa-se o hífen (ex: afro-americano, latino-americano, ítalo-brasileira). (Pra que facilitar?)
-   Em nomes geográficos (ex: América do Norte, Belo Horizonte, Cabo Verde). Porém, (de novo o porém!), quando o nome geográfico tiver prefixo GRÃ, GRÃO ou VERBO, usa-se o hífen (ex: Grã-Bretanha, Grão-Pará, Passa-Quatro).
-  Com MAL, quando o segundo elemento NÃO começar com H, L ou VOGAL (ex: malcriado, mavisto, malquerer, malpassado).
- Quando o BEM se aglutina com o segundo elemento. (ex: benfeitor, benquerer, benquisto, benfeito como substantivo). Porém (ai, porém!), bem-feito enquanto adjetivo (coisa feita com capricho) ou interjeição (bem-feito, por que quis aprender português?) leva hifen.
- Em locuções diversas (ex: à vontade, cão de guarda, fim de semana, dia a dia). MAS, se forem usadas como substantivo da oração, hifen nelas!
UFA! Não se preocupe. Se houver alguma coisa a acrescentar ou dúvida, envie-me um recado que resolveremos tudo juntos. Postarei mais dicas, aprenderemos unidos essa língua e sua gramática que tanto amo, mas que nos enchem de hifens.
Referências:
BECHARA, Evanildo - Moderna Gramática Portuguesa, 37a. edição
UOL Educação http://educacao.uol.com.br/portugues/hifen-palavras-compostas.jhtm

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Gaveta emperrada

Há gavetas que emperram para sempre. Por mais que se tente mudar isso, o trabalho mostra-se inútil e cansativo, e o ranger de madeira contra madeira, a lateral que insiste em se apegar ao móvel para manter trancado o segredo de anos acaba por nos vencer. As memórias como sementes secas não morrem e nem brotam, e lá permanecem guardadas. A chave que, um dia, a trancava, não é mais necessária. Foi corroída pela ferrugem e acabou quebrando dentro da fechadura. Impossível uma corrente de ar entrar para soprar o pó e dar espaço a fatos novos e imagináveis. E não adianta negar, fugindo da verdade: o conteúdo da gaveta lhe pertenceu, foi seu e, hoje, cheira a mofo. Já teve seu colorido, hoje é desbotado como um vestido muitas vezes lavado. Se a gaveta emperrou, foi porque sua utilização intensa existiu. Existiu. O conteúdo mofado é como o cadáver de um poeta.