segunda-feira, 2 de abril de 2012

Gaveta emperrada

Há gavetas que emperram para sempre. Por mais que se tente mudar isso, o trabalho mostra-se inútil e cansativo, e o ranger de madeira contra madeira, a lateral que insiste em se apegar ao móvel para manter trancado o segredo de anos acaba por nos vencer. As memórias como sementes secas não morrem e nem brotam, e lá permanecem guardadas. A chave que, um dia, a trancava, não é mais necessária. Foi corroída pela ferrugem e acabou quebrando dentro da fechadura. Impossível uma corrente de ar entrar para soprar o pó e dar espaço a fatos novos e imagináveis. E não adianta negar, fugindo da verdade: o conteúdo da gaveta lhe pertenceu, foi seu e, hoje, cheira a mofo. Já teve seu colorido, hoje é desbotado como um vestido muitas vezes lavado. Se a gaveta emperrou, foi porque sua utilização intensa existiu. Existiu. O conteúdo mofado é como o cadáver de um poeta.     


Um comentário:

  1. Então, o remédio para esta gaveta emperrada, é outra gaveta. Uma novinha, onde podemos colocar novas estórias, novos vestidos e novas lembranças. Sem pó, ferrugem ou madeira empenada...
    Seja feliz meu querido amigo.

    Su

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