sábado, 31 de dezembro de 2011

Faça como Aristóteles e defina o seu tempo, o seu movimento e a sua alma

Por conta de um comentário de uma querida amiga sobre o tempo, comentário este feito em uma rede social, lembrei-me de Aristóteles. Minha amiga, sempre muito refletiva, especialmente neste final de ano, postou algo sobre o tempo. Assim como ela, é natural que, em dezembro, façamos essas mesmas análises e reflexões. O que é o tempo? Para o filósofo Aristóteles, que estudou quando criança na escola dirigida por Platão, em Atenas, existiam algumas condições necessárias para se perceber o tempo. Segundo ele, para que o tempo exista, o mesmo deve se relacionar com o movimento e com a alma. Movimento seria Deus, o "motor" maior que impulsiona a vida e faz o tempo acontecer. A alma seria a responsável por fazer com que percebamos o tempo através de seus sentidos. Aristóteles afirma que todo movimento se dá em um determinado tempo que o define e que este tempo só poderá ser percebido através da alma. Sendo assim, apenas os humanos percebem o tempo, pois são os únicos seres vivos a possuirem uma alma. Sem entrar na discussão sobre se os animais também possuem alma (eu garanto que meu cachorro tem uma), minha proposta aqui, no Vide Letra, é pegar o gancho da minha querida amiga e de Aristóteles para propor uma reflexão. Uma pausa para pensar no tempo. O tempo que gastamos, que aprovetamos, que consumimos e, principalmente, o tempo de agora, o presente, que une o passado e o futuro. Nosso filósofo, em seu tratado sobre física, tentou definir o tempo. Acho que podemos tentar imitá-lo e definir o nosso próprio tempo, o tempo particular. Na linha de Aristóteles, teremos uma força maior do nosso lado (que pode ser Deus, se assim for melhor para você) que fará com que nosso movimento seja permitido e possível e que nos levará ao encontro das transformações necessárias para o nosso progresso. Este movimento será sentido por nossa alma e nos apresentará a nossa essência, essência que justificará nosso tempo terráqueo. Graças a minha amiga, refleti sobre o tempo. Graças à Aristóteles, pude pensar em nossos movimentos, sentidos por nossa alma e aproveitados pelo nosso tempo. Então, mova-se! Deixe que sua alma sinta suas atitudes e tenha um novo tempo fascinante. Feliz 2012, em seu devido tempo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Acontece que é felicidade sem fim

Sem fim. Felicidade não tem fim. Felicidade se herda, pois se transmite e, por isso mesmo, ela não tem fim. Passe a sua felicidade as pessoas ao seu redor. Sorria na rua, no trabalho e em casa. Seja positivo e tudo isto não terá fim, a tal da felicidade. Você pode fazer com que a felicidade cresça ainda mais conforme os "nãos" aparecerem, pois eles apenas comprovarão que a felicidade existe. Existe e deve ser sentida, compartilhada, divulgada e, principalmente, ensinada. Deixe sua herança mais preciosa, a felicidade, aos que tiverem que se sustentar quando você se for. É a felicidade deixada por você que fará com que eles sigam em frente. E esta mesma felicidade, como um presente de gerações, será transplantada para os próxmos e próximos. Sem fim. É natural que a felicidade não esteja presente em todas as horas, mas ela é como a jóia deixada pela vovó e que você usa quando quer ou quando precisa. Mas ela está lá, a felicidade, em um escaninho. Se quiser usá-la todos os dias, melhor ainda. Tem gente que consegue usar jóias todos os dias. O importante é você se transformar em um motivo de felicidade, em uma lembrança que seja gostosa de se ter. Seja uma memória que traga sorriso, satisfação e força aos seus herdeiros. Assim, quando eles lhe evocarem, você será sem fim. Você será a felicidade.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Uma ceia com convidados especiais

É, novamente, hora de reunir a família e os amigos ao redor da árvore de Natal e distribuir dedicações e apreços a quem, verdadeiramente, nos é importante. Todo final de ano convidamos para a ceia pessoas queridas e que são a razão de nossa felicidade. Dividimos com elas nosso pão e nosso amor, pois somos invadidos por um sentimento cristão especial. Por este motivo, sugiro que, neste ano, você aumente a sua lista de convidados para que a sua ceia seja ainda mais calorosa. Além disso, tenho a impressão de que as pessoas irão adorar. Você pode, por exemplo, convidar Fernando Pessoa e sentá-lo à mesa ao lado de sua tia solteirona para que ela, além de saborear o peru, possa escrever com ele cartas de amor ridículas a um futuro namorado. Também poderá incluir em sua lista de convidados Miguel de Cervantes e apresentá-lo a um tio depressivo que, há muito, deixou de enfrentar os moinhos da vida e que não parte mais para nenhuma batalha. Dou cinco minutos de conversas entre eles para que seu tio volte a vestir a armadura e sair cavalgando. Quanto ao seu sobrinho chato, arredio e que tem urtiga nos fundilhos, basta chamar Monteiro Lobato. Duvido que as reinações de um sítio habitado por boneca de pano e burro falante não o acalmem. Para seu irmão jovem e cheio de energia, convide Alexandre Dumas e transforme-o em um mosqueteiro. O vizinho gosta de contar mentiras de pescador? Não tenha dúvidas: convide Herman Melville. Ele tem um história de pescador que envolve uma baleia gigante que deixará seu vizinho morto de inveja! A companhia ideal para o vovô que já é um sábio é Thomas Mann. Eles perderão horas numa discussão sobre o humanismo. Só não recomendo uma companhia como Goethe para alguém que está sofrendo por amor. Se ele começar a falar sobre um jovem chamado Werther, a ceia poderá acabar em tragédia! E então? Não é uma boa sugestão? Entre panetones e chesters, podemos dividir o alimento literário que desde antes do nascimento de nosso Senhor já existia e unia os homens de boa vontade. Paz de Cristo! Divirta-se!   

domingo, 11 de dezembro de 2011

Encontro com um ET

Ontem, 10/12, aconteceu no B_arco Centro Cultural, em Pinheiros, um dia de autógrafo do Lourenço Mutarelli para lançar seu novo livro (e marcar seu retorno aos magníficos quadrinhos depois de 10 anos de afastamento) "Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente", Companhia das Letras. Fui até lá para conhecê-lo pessoalmente e lhe dar um abraço. Foi um encontro extraterrestre. Acompanho há tempos a obra do Lourenço e ela sempre me perturbou muito, uma boa perturbação. Não foi dferente com este novo livro, que conta a história de um senhor, aposentado, que passa seus dias desmontando e montando máquinas de escrever e de costura e que perde a esposa em um trágico acidente. Com a vida abalada pela morte da companheira, o processo de isolamento se inicia. A rotina (e o esforço) de dormir e acordar orando para que suas vidas não mudassem em nada (ideia passageira, obviamente), bem como o hobby de desmontar e montar as máquinas, já não fazem mais sentido quando ele se encontra viúvo. Até que um dia, ele conhece um ET. Com isto tudo, Lourenço nos leva a refletir sobre as mudanças drásticas e inevitáveis que acontecem em nossas vidas, o encontro com nosso destino implacável e, mais do que isso, o encontro com nossos ETs interiores. Aquele sentimento novo, inédito, ocasionado por um fato também inédito, irá se transformar em um ET, em um ser que nunca vimos, nem nunca ouvimos. Para as perdas do futuro, não há preparação. Talvez haja algo que possamos fazer para que as recebamos de maneira mais suave e compreensiva, mas não somos donos de nossos destinos. A realidade crua e seca do Lourenço sempre me atraiu demasiadamente. Sua perturbadora visão do mundo, seus desenhos e prosas que não têm hora para serem apreciados (no café da manhã, no domingo ou na sala de espera de um consultório, suas histórias serão indigestas da mesma maneira) sempre me passaram uma cor cinza de concreto de cidade grande que me emociona. É a vida com seus ETs de presente e muito reais. Ontem, encontrei um ET e estive com ele por alguns minutos. Um ET que há muito está em mim, transformando-me desde que sua obra me arrebatou. Um ET original chamado Lourenço Mutarelli. De uma maneira bem especial, Lourenço me ensina como viver com meus ETs. Divirta-se!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Elza, uma verdadeira Fitzgerald

De F.Scott Fitzgerald podemos dizer que sua "sombra" lhe dava segurança, companhia, apoio e, mais do que qualquer outra coisa em sua vida, completava-o, em uma simbiose magnífica. Sua "sombra" tinha nome, chamava-se Elza. E sobrenome: Fitzgerald. Também tinha uma posição mais do que honrada. Foi sua esposa até a morte. Morreu em um incêndio, num sanatório em uma das muitas internações pela qual passou. Elza era esquizofrênica. Seu corpo só pode ser identificado pelo sapato que ela usava no dia de sua morte. Elza sempre lutou para sair do espaço secundário em relação ao marido e que garantia a este a segurança e o material para escrever. Tentou as artes. Enquanto bailarina, sua professora dizia que ela já não era tão jovem para dançar, mas que, com tanta dedicação demonstrada, conseguiria se apresentar. F. Scott Fitzgerald interferiu e fez com que qualquer apresentação da esposa fosse vetada, alegando que o incentivo poderia agravar seu quadro pscótico. Começou a pintar, chegou a expor seus quadros, mas as obras não foram reconhecidas com valor. Elza passou a vida lutando contra sua doença mental e tentando tornar-se alguém com reconhecimento próprio. A luta do casal contra o álcool, as brigas constantes e os diversos interesses de Scott Fitzgerald por outras mulheres fez com que Elza acumulasse enfermidades. Ela chegou a finalizar um romance, o seu único romance, chamado "Esta Valsa é Minha" e, novamente, seu marido proibiu quaisquer estímulos positivos  que fizessem com que Elza ganhasse sua propria fama e dinheiro. Na verdade, eles se fundiam em um. O externo quase não existia para eles. Eles se respiravam e a obra de F. Scott Fitzgerald teve como personagem principal, Elza Fitzgerald. Ela foi sua inspiração e tema, a força propulsora para que seus textos tivessem vida. E, mesmo assim, foi uma mulher que morreu tentando não ser a gêmea de seu marido. É um dos clássicos casos onde a mulher representa quase a totalidade da fama e do talento de seu companheiro. Talvez F.Scott Fitzgerald não apresentasse o sol na clareira para Elza por egoísmo, por medo ou por alguma combinação entre eles, mas uma coisa é certa: existem várias Elzas pelo mundo, várias "sombras" que, na verdade, criam e divulgam o novo e as revoluções.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Na minha época...

Ah! A minha época. Que saudades! Na minha época tudo estava em ordem e reinavam felicidade e tranquilidade sociais. Não sei se você conseguirá compreender tão áurea época, mas era uma época em que coisas absurdas como preconceito, assassinato, vingança e desamor não existiam, eram inimagináveis. Para você começar a ter uma ideia de como era a minha época, vocábulos hoje tão utilizados (e praticados) como separatismo e individualismo não constavam em nossos dicionários. Ah! A minha época. Eramos uma única raça, de homens, a raça humana. Sabiamos distinguir a raça humana das outras raças, que eram as raças de nossos amigos, os animais. A raça humana tinha algumas peculiaridades, como braços, pernas e cabeça em formatos diferentes das outras raças, que eram as raças de nossos amigos, os animais. Nós, da raça humana, comparávamos divertidos nossas diferentes alturas, cores, cheiros e sexos. Adorávamos perceber como essas variedades nos atraia e nos apaixonava. Com os amigos de outras raças, os animais, não era diferente. Eles também possuiam cores, alturas e cheiros diferentes. Era assim, em minha época. E éramos felizes. Os seres vivos, humanos e animais. Pra você continuar a entender como era a minha época, dou-lhe alguns exemplos. Nossas crianças não precisavam se defender de agressões de nenhuma espécie por parte dos adultos, pois estes zelavam por elas, haja vista que elas representavam a nossa extensão e o nosso futuro. Nossa religião era amarmos uns aos outros da maneira que o amor viesse. Nosso ar não era venenoso e os rios que banhavam a todos matavam a nossa sede. Não existiam doenças que implodiam o doente como se ele fosse uma grande bolha de pus. O toque entre os seres vivos existia para abraçar, cuidar, dar carinho e fazer amor e não para esganar ou matar. Ninguém pensava em levar vantagens ou elaborar armadilhas de vingança contra supostos ameaças ou ódios. E um olhar era apenas um olhar, sem intenção expiatória. Todos tinham seu lugar, os animais e os de nossa raça, os humanos. Ah! A minha época. Bem, eu poderia redigir um longo relatório sobre a minha época. Caso você queira algo mais detalhado, com mais informações, basta dizer. Pediram para que eu lhe enviasse este informe porque dizem que aí, na sua época, as coisas não andam muito bem.