quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O fantástico em nós

Hoje o escritor argentino Jorge Luis Borges completa 112 anos. Sim, completa, pois, sendo um Sr Fantástico, tanto ele como sua obra estão mais vivos do que nunca. Até 1986, ano de sua "suposta" morte, o Sr Fantástico tratou de construir, através de seus poemas, ensaios e contos, um mundo imaginário, cheio de deuses e seres maravilhosos com o intuito de mostrar-nos quem ele era e o que somos nós. Fantásticos. Deu-nos uma identidade, catalogou-nos como múltiplos. Com sua veia latina, privilegiou a memória da palavra. Transformou a escrita em ser mutante, aplicável a toda época e para sempre. Toda palavra é efêmera e mutante, isto sim. E permanente. assim mesmo, tendo esse cheiro paradoxal. Com suas torres de Babel e suas bibliotecas de Alexandria, uniu e definiu o homem comtemporâneo. Tudo em nós está em suas obras. A obra de Borges é o prórpio Borges. Equação indivisível. Assim como Fernando Pessoa é, de alguma maneira, menor que sua própria obra e nada sem ela, Borges salta de seus textos e se materializa a nossa frente. Sem sua palavra, ele não existe. E nem nós. Ele nos transforma, ou melhor, faz com que tenhamos consciência de nós mesmos. Obriga-nos a olhar para dentro de nosso espírito e enfrentá-lo, conhecê-lo. Exemplo: em "O Livro de Areia", no conto "O Outro", Borges encontra-se com ele mesmo em um banco de alguma praça em Boston. O diálogo que se inicia, após uma certa irritação de Borges pelo novo companheiro vir tirá-lo de sua paz solitária, é uma amostra do que Borges consegue transmitir-nos: a conversa com nosso interior, nossos questionamentos e lutas pessoais e, principalmente, nossas lembranças, que nos fazem companhia quer a queiramos vivas ou não. Este conto remete ao livro "O Duplo", de Dostoiévski, escritor que melhor conseguiu definir a alma humana. Mas, antes de acharmos que Borges está plagiando o escritor russo (eu estava tendo esta impressão no início do conto) ele cita a obra de Dostoiévski ao seu interlocutor, em uma linda passagem sobre a memória. Sobre a morte, vale citar outro trecho do conto mencionado: "Que ninguém se perturbe por uma coisa tão comum e corrente". Este é Borges. Depois dele, nos transformamos em seres fantásticos, em deuses do impossível. Sendo assim, nos transformamos em Borges. E que ele viva para sempre. Divirta-se!

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