quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Deus, segundo o filho

Saramago não precisa de apresentações. Sua obra está aí para mostrar-nos sua fé. Saramago dizia-se ateu, mas, em duas obras suas, apresenta-nos temas cristãos. Estes sim, valem alguma apresentação. Em "Caim", seu último livro, uma leitura do antigo testamento é feita por Caim, o protagonista que questiona e enfrenta Deus. É mais do que humano questionar e lutar por conforto e sobrevivência, coisas que foram privadas de Caim por seu (nosso) Criador. Privações que Deus justifica como necessárias para o pagamento da dívida pecaminosa que Adão e Eva (pais de Caim) contraíram quando desobedeceram seu (nosso) Criador comendo da fruta proibida e tentadora que o próprio Deus havia criado. Já em "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (em minha opinião, seu melhor livro), é Jesus quem nos apresenta o novo testamento e sofre nas mãos de seu (nosso) Pai. Apesar de ser filho único de Deus, Jesus é o melhor instrumento para que Ele mostre-nos sua existência e poder. Saramago, o ateu, conhece bem os evangelhos e, por isto mesmo, tem opiniões muito próprias a respeito do fascínio de Deus sobre os homens e firma as eternas questões: Deus é bom? É vingativo? E tudo isto para que? Não há respostas certas. Depende de quem as responde. Deus pode ser qualquer coisa, para qualquer um. Não ser nada para alguns e, mesmo assim ser algo como, talvez, um simples nome ou um folclore. Pode ser muitos em um só. Para Saramago, Deus fez e usa suas crias como bem entende. Às vezes para lembrar-nos de Sua existência, às vezes para divertir-se e passar o tempo. Para nosso mestre português, Deus não responde os porquês. O mal, a morte, os sacrifícios são assim porque Ele decidiu que assim os fosse. Para mim, Deus é tudo aquilo que eu acredito que me faça bem. Deus é meus pais, meus amigos, meus livros. É também meus olhos, a água que mata minha sede, a paisagem na janela de meu carro. É a companhia de meu amor, é ficar de mãos dadas. Se Saramago era ateu (eu adoro a literatura de Saramago, que fique claro) como ele dizia ser, talvez ele apenas não colocasse o nome "Deus" em suas paixões e em coisas que ele admirasse ou criasse. Todo filho Dele, incluindo Saramago, tem por direito questionar as razões da vida, mas temos por obrigação achar Ele nas coisas que amamos e que justifiquem nossa existência e milagre. O Deus de Saramago era a escrita (acho que ele não sabia disto). O nosso Deus mostra-se, também, nas histórias de nosso amigo português. Tenho orgulho de ter opinião de filho de Deus. Divirta-se!  

Um comentário:

  1. Linda homenagem a um grande escritor e filho de Deus... Como somos todos e tudo.
    Bjusss

    ResponderExcluir