quinta-feira, 2 de junho de 2011

A pornografia do anjo

Autor de 17 peças de teatro, nove romances (se bem que, apenas um levou seu nome - O Casamento - os outros foram assinados por pseudônimos femininos) e inúmeros contos e crônicas, Nelson está longe de ter esgotado nosso interesse por sua obra. Ele dizia: "Não reparem que misturo o tratamento de tu e você, pois não acredito em brasileiro sem erro de concordância". Em uma época em que se propõe que a norma culta seja considerada como não essencial aos alunos, na escola, é de se tomar cuidado com tal declaração. Mas também deve-se prestar atenção na realidade que Nelson aponta. É exatamente por não estudar que o brasileiro erra na gramática. Se ele, enquanto arte, escrevia sem a concordância nominal correta, era justamente com o intuito de crítica e proximidade com o real do universo de suas personagens. Outro apontamento dele, seguindo essa criticidade, era que "o Brasil é um país onde não há negros, pois nem o negro, aqui, admite ou quer ser negro". Você pode ter acesso a genialidade deste dramaturgo/escritor com vontade, pois a editora Agir, desde agosto de 2006, vem relançando toda a sua obra. Contos de "A Vida Como Ela è..." ou mesmo suas crônicas de "O Óbvio Ululante" ou seus folhetins como "Meu Destino é Pecar", além de ótimos passatempos garantidos, são cheios do universo rodrigueano que, com certeza, permite-nos avaliar sua obra. Mas o Vide Letra que recomendar, para quem conhece ou não a obra de Nelson, o livro "O Anjo Pornográfico" de Ruy Casrto, editora Cia das Letras. Biografia de Nelson, com narrativa fácil e prazerosa, haja vista que os capítulos têm uma sequência estimulante. Lá, está toda a sua formação, trabalhos, familiares, amores e obra. Para introduzir Nelson e deixá-lo com água na boca, aí vai:  "Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico". Divirta-se!

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