domingo, 5 de junho de 2011

O animal em nós

Lembrei-me, hoje, de uma obra da literatura que li há, pelo menos, 20 anos. Lendo a revista "Bravo" de junho/11, no. 166, da editora Abril (está nas bancas), uma das matérias remeteu-me ao livro de Geroge Orwell, "A Revolução dos Bichos". A mátéria da Bravo é referente ao trabalho da artista norte-americana Miru Kim, filha de filósofo sul-coreano, e apresenta em algumas páginas fotos de autoria da artista, que tem como sensação primeira para seus trabalhos, a pele humana. Em uma colocação própria (e sensacional, na minha opinião) ela diz que "é graças a pele que o mundo externo se comunica com o nosso interior". Por isso, em suas fotos ela aparece inteiramente nua (vale conferir, muito legal!). Uma das fotos da artista apresentada pela revista Bravo mostra vários porcos em um abatedouro nos Estados Unidos esperando o abate. A foto é impactante. Ao mesmo tempo que repele por ser crua, triste e real demais para não nos sensibilizarmos com a cena, ela atrai nossa atenção e faz com que procuremos os detalhes do trabalho entre os corpos dos infelizes porcos. Miru descobriu em aulas de anatomia que a fisiologia humana se assemelha à dos porcos e diz que "corpos de animais e humanos podem se juntar momentaneamente pelo contato das peles". Hoje, ela defende, à sua maneira, através de seu trabalho, o mal trato e o descaso aos animais. Em uma analogia bem simplória com o trabalho de Miru, no livro os animais se revoltam contra as leis humanas vigentes e, sob o comando de um porco (o Bola de Neve), que almeja "governar" uma granja e ir contra  a exploração dos homens, teriam sua vingança concretizada. Óbvio que o livro de Orwell é político, mostra-nos a divisão de classes sociais e satiriza a revolução russa stanilista onde todos seriam iguais em valores e condições, uma impossibilidade que está, inclusive, entre as personagens animais. O livro foi publicado em 1945, ao final da segunda guerra e, hoje, não tem o mesmo impacto que na época de seu lançamento, mas ainda é muito próximo de nossa realidade se o analisarmos sob uma ótica onde existam desigualdade de direitos, corrupção e sede de poder. Mas o que eu adoro neste livro, lendo-o em uma perspectiva de fábula de esopo, é a liberdade que os animais pleiteiam para viver sem os comandos escravistas dos humanos. Há muito as denúncias de mal tratos contra animias vêm se multiplicando. Cães mortos de maneira cruel na China para alimentação humana, galinhas que vivem em espaços minúsculos apenas para procuzirem ovos (sabia que elas tem o bico cortado para não machucarem umas as outras?), porcos sendo tratados sem sentimentos, pois serão mortos, etc, são mostrados via internet cada vez mais. É a eterna questão: existe maneira de continuarmos comendo carne sem que os animais sofram, sem que eles tenham direito a um abate sem dor ou trauma? Sei que pode soar demagogo, pois eu como carne, mas que dá uma vontade de mudar de hábitos alimentares, isso dá. Imagine o livro de Orwell real por um dia: já pensou, um porco pegando seu filho, na sua frente, e abatendo-o para um churrasco? E seu filho sendo escolhido para o abate por ser novinho e ter a carne mais macia? Bom churrasco, divirta-se!

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