segunda-feira, 6 de junho de 2011

O sonho e a realidade de Mia Couto

Em meu aniversário deste ano, uma amiga querida deu-me de presente, até então inédito em minha vida, o primeiro livro de Mia Couto, "Terra Sonâmbula" (Cia das Letras). Ela conectou-me com este escritor de Moçambique para, de vez, ele ficar em mim. Dono de palavreados especiais e puros como o povo africano, Mia Couto nos transporta, através dos ditos e dos pensamentos de dois meninos protagonistas, a uma realidade de sobrevivência fugitiva. Como um soluço prestes a sair em choros, a África tomada pela guerra colonial e civil aparece-nos cheia de morte e desesperança. Mas é de esperança, luta e vontade de viver que este povo (e não apenas na ficção espetacular de Mia Couto, pois, apesar desta história ser fictícia, ela espelha com veracidade a rotina de nossos irmãos africanos) nos emociona. A guerra matou tudo, absolutamente tudo. O que nos sobra são os sonhos. Eles que movem a estrada da vida (que, no caso africano, encontra-se morta). E com estes sonhos os meninos embalam suas rotinas de fome, medo e perseguição. Lutam em busca de um canto de sossego. Num mundo onde as crianças são estorvos, pois impedem a fuga quando o inimigo chega (seja ele seu colonizador ou seu conterrâneo), eles tentam, com uma humildade irreconhecíveis nos humanos, estar juntos de suas bases familiares para preservar o amor. Eu não sabia que este livro havia virado filme, uma co-produção portuguesa, alemã e moçambicana, de realização de Teresa Prata, em 2007, inclusive conquistando prêmios de cinema na Índia. Fui atrás e descobri, também, que o filme não existe no Brasil (triste!). O vídeo deste filme você pode assistir neste post (se alguém descobrir onde podemos ver o filme, por favor, avise-me, okay?). De qualquer maneira, o Vide Letra recomenda fortemente a leitura deste livro. Posso garantr que pouquíssimas vezes senti-me tão tocado por uma prosa que, neste caso, pode ser comparada a uma reunião de contos, haja vista que, antes deste livro, Mia Couto apenas escrevia contos (talvez uma comparação bem superficial com nosso Guimarâes Rosa, também dono de uma assinatura única em matéria de linguagem). Como disse Platão, mencionado na abertura do livro, "há três espécies de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar". Sonhe junto com Mia Couto e ande no mar. Divirta-se!

Um comentário:

  1. Nossa, fiquei emocionada com o trailer e vou atrás do livro ainda hoje!
    Você já leu "Say you're one of them"? Acredito que vá te emocionar também.
    bjo
    Vera

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