quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A raiva do amor

Há um artigo do José Renato no site da Livraria Cultura desta semana (http://www.culturanews.com.br/) que me fez ter noção de uma caracteristica do amor que, até então, eu não tinha (ou tinha, mas inconscientemente): a raiva que o amor pode despertar em nós em relação as pessoas que nos são próximas. Sim, pessoas muito próximas e que amamos, às vezes, incondicionalmente, como nossos pais ou nossos filhos. Eu sei das afirmações quase clichês como "o amor está a um passo da raiva" ou "o amor e o ódio andam de mãos dadas", mas não é a isto que o texto do José Renato se refere, e sim à raiva originada pela convivência com alguém amado. Por exemplo: quantas vezes você já não teve vontade de dizer (se é que não o disse) "mamãe, a senhora é um saco!", ou "meu filho, eu vou esganar você!", ou ainda "eu odeio meu marido!"? O texto do José Renato fez-me notar algo que não havia percebido. Não sei se é certo classificar como raiva o que sinto, mas que em diversas ocasiões eu me surpreendo sem paciência em relação as pessoas que amo e que encontro constantemente (amigos, parentes, etc), isto é fato. E, na maioria das vezes, por motivos banais. Aliás, quase sempre por motivos banais. Talvez a falta de paciência (ou a raiva, como diz o José Renato) aflore com mais facilidade em relação aos nossos queridos porque eles representam um terreno seguro onde podemos desabafar, xingar e bater o pé com a ingênua segurança de que eles não irão nos abandonar. Disse ingênua segurança porque acho que até o amor tem limites, nesse aspecto. Se, quando sentimos raiva, apresentamos às pessoas que amamos tudo de ruim que possuimos, além de raivosos, seremos estúpidos? Apenas por acharmos que as pessoas especiais em nossas vidas aguentarão nosso mau humor e ódio porque elas nos amam, isto nos envolve em alguma espécie de direito de extravasar nossa ira sobre elas? Se a convivência gera raiva, se a constância de encontros entre duas pessoas que se amam pode ocasionar raiva, acho que a internet trará a solução, pois ela mantém as pessoas distantes, aparentemente, fisicamente. Claro, estou sendo irônico. Se a raiva aumentar, acho que nem a internet conseguirá separar uma briga. Até!

Um comentário:

  1. Querido Ro!
    Não se engane... Convivência é difícil. Isto é fato.
    Amor por filhos é incondicional - você pode ouvir o que quer que seja dito por eles - seu amor jamais vai diminuir e a raiva disso acaba num piscar de olhos, num simples sorriso, num abraço...
    Amor pelos pais... Bem, isso é outra coisa. Podemos passar a vida sem saber ao certo o que sentimos pelos nossos pais, quando estes "descontam" toda sua frustração em cima de nós... E mesmo assim, devemos tudo (ou quase tudo) a eles.
    Agora, tem a categoria "amor ao marido/esposa/companheiro/a". Quando os encontramos, temos a certeza de que serão nossos para o resto de nossas vidas... Esquecemos que todos somos únicos, singulares. Nossas particularidades nos levam a pensar de forma totalmente diferente do outro. A começar pelo simples fato de termos sexos diferentes. E aí vem aquela gama de definições clichês de que "homem pensa assim e mulher assado"... Para mim tudo balela, já que sentimentos são sentidos de acordo com nossas experiências, pensamentos se encaixam dentro daquilo que queremos ou ansiamos e carinho, respeito e afeto é bom e todos gostamos.
    A raiva está contida no fato de que não somos onipotentes, embora queiramos ser. Quando aprendermos a "baixar nossas bolinhas", entenderemos que é muito bom o olho no olho, o toque macio e quente de mãos que se procuram e bocas que se encontram... e não tem Internet na vida que vá substituir isso.
    Bjusss

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