sábado, 22 de outubro de 2011

Que cabelo você necessita?

Saber o que é necessário para vivermos, hoje em dia , é quase impossível de ser definido. E não estou falando de obviedades como comida, água e teto (se bem que existe gente sem teto, mas enfim), e sim dos supostos excedentes, dos supérfluos que tantas possibilidades nos dão em todos os sentidos. Os demasiados que, até pouco tempo, eram considerados objetos luxuosos e não tão necessários para, literalmente, sobrevivermos, atualmente ocupam os primeiros lugares na lista das coisas que precisamos possuir, mesmo que, depois, essas coisas nos escravizem. O novo livro do argentino Alan Pauls, "História do Cabelo", editora Cosac Naify, ao mesmo tempo que nós dá uma ideia do que foi a Argentina nos anos 70 através do protagonista que vive em conflito com seu cabelo, tem a proposta de apresentar o peso que nos impomos quando possuimos algo que devemos manter e cuidar. Algo que assumimos como definição de nós mesmos e que se torna maior do que nós. O cabelo, no caso do protagonista (ele não possui um nome no livro e isso é genial), influencia-o e altera suas ações diariamente. O cabelo dita sua postura, sua inclinação política e seu estado de espírito, além de representar um fardo por exigir cuidados e atenção. Ele pensa no cabelo como outros pensam na morte. Com o universo que esta frase representa, temos noção em qual terreno caminharemos durante a leitura. Cortar o cabelo ou não cortá-lo, sua aparência após o corte e a maneira de usá-lo que, plasticamente, definirá sua personalidade, leva-nos a refletir sobre o que somos e o que precisamos ter para obtermos uma certidão individual. Nossa realidade está repleta de periféricos e tecnologias mais do que necessárias para trabalharmos, cuidarmos da saúde, sociabilizarmo-nos, etc. Um carro com opcionais de segurança mantém nossa família mais tranquila em um passeio. Um computador com as últimas versões de um software poderoso conecta-nos aos amigos e aos nossos colegas profissionais. O perigoso é quando essas coisas começam a nos dar forma, quando se transformam em "deuses" venerados e nos moldam. Somos mais do que as coisas que o homem inventou. Vergar-se a fútil necessidade de possuir algo apenas por possuir é servir ao material invetando por nós mesmos. Somos essência e vida. Somos superiores quando decidimos o que queremos. O meu cabelo é usado como eu quero, e não da maneira como ele se comporta em minha cabeça. O comportamento é meu. A cabeça é minha. Corte seu cabelo, e não sua cabeça. Divirta-se!

Um comentário:

  1. De que cabelo se tem necessidade?
    Um que não nos denuncie a obscuridade
    Talvez um da cor do ouro, quem sabe?
    Ou um com tantos fios e cachos
    Que não deixe perceber quem é fêmea ou macho

    Que cabelo não nos deixa cabisbaixos?
    Aquele que deixe ver claro por baixo
    A genialidade das ideias, a cor viva dos valores
    Quem sabe o começo de muitos amores...

    Qual cabelo sem nada de obsceno?
    Com certeza um com volume pequeno
    Que não cubra visões de alento
    Mas aqueça no pleno comprimento
    As costas desnudas como um instrumento...

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