segunda-feira, 11 de julho de 2011

A cachorra que nos emociona

Há tempos quero mencionar este livro aqui, no Vide Letra. "Vidas Secas" de Graciliano Ramos é mais uma homenagem e um agradecimento meus a esta obra do que uma indicação de leitura. Gosto de mencionar autores nacionais por que acredito que a alma do brasileiro, de tão surrada, de tão experiente em sobreviver, atinge um nivel de expressão tão autêntico e nítido que é como se encostassemos o ouvido do lado direito do peito e ouvissemos o pulsar da vida. A família protagonista deste romance (pai, mãe, dois filhos pequenos e a cachorra Baleia) foge da seca nordestina como se fugisse dela mesma e de sua existência. A relação dos entes, incluindo-se nesta relação a cachorra Baleia (sim, é o nome mais marcante do romance, por isto permito-me mencionar apenas ele, mesmo porque as crianças não têm nome) é de caminhar. Caminhar para um não sei. Para um horizonte onde, espera-se, reside uma esperança de bem-viver. É um romance grandioso e triste, como toda obra profunda deve ser: grandiosa e triste. Mas quero falar sobre a cachorra Baleia: ela sente, sonha, ama, é companheira e...sofre. Mais do que qualquer outro personagem, ela nos é apresentada por Graciliano como o elemento que nos mostrará o âmago do romance. É nela que podemos sentir a verdadeira aflição que os humanos se submetem. Humanos que vivem em condições animalescas e que, talvez por isto mesmo, a cachorra é que tenha a voz mais latente no livro. Lembro-me de que este livro e Baleia me tocaram tão verdadeiramente que por alguns momentos achei que não fosse conseguir continuar com a leitura. Mas consegui. A gente consegue o inimaginável quando queremos algo. Foi assim com a família de Vidas Secas. Foi assim com Baleia que, com amor e acreditando em sua família itinerante (mesmo não crendo no que, às vezes, seu próprio dono fazia a ela) conseguiu chegar aos céus dos cachorrinhos. Divirta-se!

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