terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O professor sentimental

Orhan Pamuk. Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em uma palestra em São Paulo. Foi uma hora de lições de literatura inesquecível. Professor de literatura na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Pamuk publicou, recentemente, o livro "O Romancista Ingênuo e o Sentimental", lançado aqui, no Brasil, pela Companhia das Letras. O livro é uma compilação de conferências ministradas por ele em Harvard. Na verdade, é uma conversa, onde o professor Pamuk ensina, brilhantemente, a arte de escrever um romance. Divide os autores de romances em dois grupos: o ingênuo, que escreve porque nasceu para escrever, sem pensar em formas ou técnicas, e o sentimental, que se preocupa (e muito) com o estilo, com a exposição das ideias, com a construção dos personagens e, sobretudo, com o "centro" que o romance terá. É nesse "centro", implicitamente ou explicitamente que estará o cerne de toda a história. Para Pamuk, o escritor ideal é aquele que tem um pouco de ingênuo e um pouco de sentimental. Segundo ele, devemos deixar a intuição emanar naturalmente de nossa escrita, mas a preocupação com o estilo e com a certeza das informações transmitidas deve ser considerada. É dessa maneira que os romances nos "fisgam" e nos emocionam. O leitor quer identificação com o que lê. Mesmo que a paisagem transmitida através do olhar do protagonista seja diferente da do leitor, o interesse despertado por uma boa história é possível, basta a ela conter elementos do dia a dia, como árvores, vento, objetos caseiros, casamentos, filhos e emoções mundanas. O leitor deve perceber o mundo em que o romance o inseriu. É mágico. Lendo um bom romance, passamos a acreditar na sua realidade, ao ponto de esquecermos, mesmo que por um curto período, a nossa. A história pode ser de dragões, de deuses marítimos, de mortos que andam, de objetos falantes, não importa. O que nos dará uma realidade quase palpável é um "centro" romanesco bem construído. O professor Pamuk faz isso de maneira singular. Ele faz com que nós, leitores, atravessemos aos poucos uma grande floresta, enxergando todas as árvores do caminho para que, lentamente, cheguemos ao "centro" de seus romances. É, talvez, a maneira mais linda dele nos apresentar a sua concepção da vida. Escrevendo para nós, leitores sortudos de poder receber suas lições. Eu tive a sorte de poder estar com ele, pessoalmente, por instantes. Agora, levo seus dizeres no coração...e na estante! Divirta-se!

Um comentário:

  1. Fui definitivamente fisgada por este professor tão maravilhosamente culto e sensível que é o Pamuk. Estou lendo Neve e me emocionando a cada página lida, que bebo com a avidez do perdido no deserto...
    Bjusss

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