terça-feira, 27 de março de 2012

Eu falo como eu quero!

Ganhei de aniversário o livro do professor e escritor Marcos Bagno "Não é errado falar assim", editora Parábola, e foi um presente surpreendente. Ele defende, com ótimos argumentos, o português usado no Brasil, o comumente falado pela maioria dos brasileiros. Ousado e irônico, habilmente ele aponta as características de nossa língua portuguesa (a nossa, não a de Portugal), uma variação linguistica que deve ser aceita como natural e inevitável, haja vista as adaptações que uma lingua passa ao longo dos tempos. A ideia de que em Portugal se fala um português "correto" e de aqui no Brasil nós assassinamos a língua cai por terra em exemplos magníficos. Para ilustrar, eis um dos argumentos do livro: não se pode exigir que usemos a mesma regra de colocação prenominal de Portugal, como a bendita ênclise, quando nossa fonética nos pronomes oblíquos é tônica. Isso, segundo Bagno, autoriza-nos a dizer frases como "te amo", usando a próclise sem traumas. Em Portugal, os pronomes obliquos são átonos e aglutinam-se ao verbo como se fossem uma só palavra. Seria algo como uma proparoxítona (âmote). E ele vai longe nos exemplos, inclusive com excertos de textos publicados pelos letrados e errados gramaticalmente. Ele não dispensa a norma padrão, apenas alerta sobre as outras maneiras de falar que devem ser aceitas pelos puristas pelo simples fato de existirem. Deixar os milhões de brasileros falarem sua lingua à vontade e não uma língua imposta por uma gramática de mais de 500 anos não é ser "bonzinho" e muito menos deixar de educar, nas escolas, os futuros formadores de opiniões. É aceitar que a língua portuguesa brasileira é um fato, não é invenção. É mostrar que, além das normas padrão e culta, existe uma língua viva sendo usada corretamente, pois toda lingua tem sua gramática, do contrário ela não seria entendida. É acompanhar uma evolução linguística e cultural de um povo, do nosso povo. Sou revisor de textos e sigo a norma padrão, mas entendo perfeitamente a posição do professor Marcos Bagno: proibir falar errado é calar uma nação com cultura e língua particulares.Aceitar, nas escolas, a comunicação das crianças, principalmente as de periferia, e apresentar a elas a norma padrão sem preconceito linguístico (termo em moda, no momento) é deixá-las à vontade e transformá-las em cidadãs. Depois da leitura do livro do professor Marcos Bagno, minha vida não será mais a mesma. Ele me autorizou a "escrever pelos cotovelos". Divirta-se.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Pelo menos tem a saudade

Pelo menos tem a saudade. Se há saudade é porque não foi em vão. É porque foi bom. Por isso ela, a saudade, vem preenchendo meus dias. Memória de coisas boas, dos cheiros e dos calores. Saudade das manhãs quando colhia a flor brotada na madrugada depois da noite de amor. Saudade da pele que me cobria e retinha a minha sensibilidade. Saudade de comer e descansar na digestão, absorvendo o útil. Pelo menos tem a saudade, essa companheira da solidão aparente. Ela não me deixa esquecer o lindo, rico e único passado fértil. Sim, fértil, pois do contrário a saudade não teria nascido, não estaria aqui, comigo. Vivi sem pensar se existiria o depois. E o depois chegou, em forma de saudade. Pelo menos tem a saudade. Pelo menos tenho algo para contar, lembrar e levar comigo. Só não tenho mais você. Então, já não sei mais o que tenho.

quarta-feira, 7 de março de 2012

A mãe natureza



Para ser Mulher, seja forte. Seja homem, seja bicho, seja músculo. Para ser Mulher, seja doce, mas também seja salgada como as lágrimas derramadas pela cria quando ela rala o joelho jogando bola ou pulando o muro da escola. Seja tudo isso e ainda tenha ventre para receber o futuro, pois, do contrário, não haverá futuro. Seja otimista para segurar as pontas quando o outros não puderem suportar as próprias pontas. Seja bússula e farol, oriente. Seja cais, receba. Para ser Mulher tenha a certeza do caminho ideal quando não houver nem saída. Tenha sempre uma porta de entrada com café com leite e biscoito para uma tarde de chuva. Seja fenomenal, tenha a paz de uma japonesa e o grito de uma russa. Para ser Mulher. tem de se nascer Mulher. Não é fácil ser Mulher. E isto aqui não é a minha opinião sobre o que é ser Mulher. É um pedido. É quase uma oração rogando: por favor, seja Mulher e faça a nossa realidade continuar existindo. Mãe, o verdadeiro cordão umbilical é impossivel de ser cortado. É como querer cortar a natureza existente em mim, essa natureza ofertada por você e por Deus. Obrigado por ser Mulher. 

sexta-feira, 2 de março de 2012

A carta

É uma carta. Apenas mais uma carta dentre as tantas que escrevemos por um tempo mágico e de amor que, agora, se renova. É mais uma página, de outra carta. Impossível histórias de amor terem fim. Romeu e Julieta vivem, até hoje, sua eterna história de amor e morrem por ela todos os dias quando as pessoas os materializam. Soubemos escrever (e ditar) nossas cartas como só os amantes podem fazer, pois somente eles usam palavras e tintas que ficam, e vivem, e morrem, e vivem. Nossa nova carta continuará sendo de amor. Amor renovado e mais forte. Amor transformado no sagrado de dois, que acabou sendo de tantos, esses tantos que conquistamos com nossas cartas e nosso ritmo. Amor imperial, como Marco Antônio e Cleópatra; intelectual, como Sarte e Simone de Beauvoir; mitológico, como Orfeu e Eurídice. Verdadeiro, como o nosso. Nenhum deles teve fim. Impossível, inimaginável achar que esta vibração quase celestial acaba. Nosso amor está incorporado na matéria que nos compõe. Tira-se nossa pele e mesmo assim ele estará lá, porque não é superficial. E, hoje, está maior e precisou renovar-se. Acredite. Ele exige um espaço maior e precisamos deixá-lo crescer. É o justo. Sei que seu crescimento está causando dor, mas a nova carta será, definitivamente, escrita pela verdade. A verdade de um amor.